Desejo

  • Laura Lima apresenta Desejo, obra em que a artista oferece ao espaço sideral a observação de seus desenhos. A tarefa é realizada por um astronauta em uma base espacial orbitando a terra. O público, que está na terra, pode testemunhar o feito intermediado pela tecnologia, o trabalho ganha a forma de uma articulação experimental entrecruzada com tempos e espaços expandidos, uma vez que as imagens se transpõem para além do planeta terra e entram em contato com outras galáxias, em uma missão artística interplanetária.

  • Desejo é uma ideia que surgiu no início do ano de 2019, quando quis que alguns de meus desenhos fossem vistos pelo universo, pelo espaço sideral em si e por outros corpos celestes, tal como uma transmissão onde os desenhos enviados fossem apontados para esta grande escuridão que, corriqueiramente, conhecemos como o grande “nada” – essa soma de espaço e tempo formada de matéria intergaláctica ao nosso redor – e para isso precisariam estar nas mãos de astronautas que trabalham em bases flutuantes, além dos limites da atmosfera terrestre.

  • É comum em estações espaciais haver câmeras que transmitem, em tempo real, a rotina desses viajantes espaciais para sites de grandes empresas que exploram o espaço, tal como a estadunidense Nasa, como através da página NASA ISS Live Stream - Earth From Space:

  • Tais câmeras portanto, seriam nossos olhos, desde a terra, e poderiam testemunhar e transmitir o acontecimento do trabalho remotamente, onde seria feita a partilha de 37 desenhos, criados em tinta preta sobre papel A4, enviados via web para a nave, impressos (ou expostos em uma tela) pelos astronautas e com minhas instruções exibidos para o vazio da estratosfera espacial, que observaria tais símbolos até então desconhecido, sem a presença de um público.

  • abaixo deixo algumas referências de outros trabalhos que dialogam com a proposta:

  • Laura Lima (Governador Valadares, MG, 1971) 

     
  • Artista brasileira, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seres vivos e arquitetura são alguns dos elementos integrantes da obra de Laura Lima, que inclui em seu ofício como artista a práxis vital do tempo da experiência – participante e do expectador na obra –e o fazer filosófico, variando de meios – desde de bordados à mão a organizações ativistas e chamamentos abertos –, e utilizando ferramentas técnicas que expõe um contraste poderoso com suas referências visuais. Transformar o espaço em uma obra viva, um organismo abrangente, na qual a experiência do expectador dentro do ambiente construído é central para o significado da obra, é um exemplo de apresentação criada por Laura. A partir de seres moventes e de signos do cotidiano o trabalho desenvolvido pela artista pode ser apreendido quando posto em relação com um glossário sui generis criado pela autora. O uso de matéria viva incita tensões e mudança de padrões, suas instalações muitas vezes põem em cheque a justaposição de corpos – sólidos ou vazios – que deliberam perturbações e distopias. Jogos de escala e equilíbrio entre o comportamento da paisagem, dos objetos, das pessoas, dos animais e de outras coisas vivas, são exercícios significativos no repertório da artista, que lida com a escultura como um aparato de cuidado com os volumes da vida em suas várias camadas. Não é performance, em Laura o ser vivoequivale a arquitetura, paisagem, experiência e se torna imagem. Homem=carne/mulher=carne são territórios entrecruzados. Se aprofundar no conjunto da obra de Laura Lima é notar o corpo híbrido e o tecer da corda, do fio, do carvão e da vida. O trabalho é desejo e temor.

     

    Em 2020 participou da exposição “Brasil! Foco na Arte Contemporânea Brasileira”, no Museo Ettore Fico, em Turim, Itália, e da Trienal de Sorocaba. Em 2019, realizou a individual “Balé Literal” na A Gentil Carioca, escolhida como a 3ª Melhor Exposição Invidual em galeria pela Revista SeLecT,  esteve presente na 14ª Bienal de Sharjah e no programa de residência na Art Dubai Fair, ambos nos Emirados Árabes Unidos. Realizou também a individual “I hope this finds you well”, na galeria Tanya Bonakdar, em NY e participou da coletiva "O que não é floresta é prisão política", na Ocupação 9 de Julho do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), São Paulo. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas ao longo de sua trajetória profissional, entre as quais, em 2018, realizou o solo “Wrong Drawings”, na Goodman Gallery, na África do Sul, “Alfaiataria” na Pinacoteca do Estado de São Paulo e “Cavalo come Rei” na Fondazione Prada, Milão. No mesmo ano, participou das coletivas “Divided We Stand” na Bienal de Busan, Coréia do Sul, “Lugares do Delírio”, no SESC Pompéia, São Paulo e foi umas das mentoras no  “Forecast/Living Matter”, na Haus der Kulturen der Welt, Berlin.

     

    Suas obras integram o acervo do Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte; Instituto Inhotim, Brumadinho; Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Migros Museum fur Gegenwartskunst, Suíça; Bonniers Konsthall, Suécia.