Abre Alas 17
São Paulo | 12 fev - 19 mar 2022
Rio de Janeiro | 19 fev - 9 abr 2022
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Adriano Braga de Moraes, Albarte, Allan Weber, Ana Hortides, ANNA, Antonio Tebyriçá, Caio Rosa, Carlos Monaretta, Cipriano, Complexo da Pedreira Paulo Vinicius, Fava da Silva, Florencia Caiazza, Ian Schuler, Jeff Mendes, Josi, Kika Diniz, Mari Ra, MARIA ANTONIA, Mariana Honório, Marina Woisky, Mery Horta / Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda., Patfudyda, Paulo Jorge Gonçalves, Priscila Rezende, Renan Soares, Sabrina Fidalgo, Tainan Cabral, Thadeu Dias, Thiago Thomé Marques, Zé Tepedino
Curadoria: Pollyana Quintella, Deri Andrade, Maxwell Alexandre
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Abrir alas – pedir passagem para o desfile começar. Ou melhor, iniciar os trabalhos, como dizem por aí. O já tradicional Abre Alas da A Gentil Carioca, espécie de rito dos inícios, aposta e pontapé de algo por vir, atravessou dezesseis edições ininterruptas fazendo da sua encruzilhada um ponto de transversalidades e pluralidades, ao agregar, não sem contradições, artistas, não artistas, passantes, ambulantes e demais seres viventes. Em meio ao fervo das celebrações, outros afetos, sobretudo os de artistas mais jovens, se diluíam na noite: o desejo de integrar o fantástico e colorido mundo das artes, a ansiedade e a expectativa de ser reconhecido, os conflitos entre pertencer e despertencer, topar e não topar acordos, negociar e definir termos e limites. Alguns nomes desconhecidos que expuseram ali hoje compõem algumas das maiores exposições de arte do país; outros, também desconhecidos, permanecem na sombra. O jogo é, a um só e outro tempo, de fácil e difícil previsibilidade.
Mas 2020 operou um corte. A tal da pandemia veio pôr em crise as relações entre público e privado, casa e rua, dentro e fora, doméstico e estrangeiro, familiar e desconhecido, expondo as fraturas da frágil democracia que nos circunda. Não houve Abre-Alas no ano passado, nem carnaval. O que haveríamos de celebrar? Aliás, arte para quem, e sob que condições? Neste entremeio, apesar das crises todas, a produção artística no Brasil veio (e vem) atravessando um momento de mudança de paradigma. Múltiplos, vigorosos e sedentos por circulação e recepção, artistas de contextos não hegemônicos se afirmam com os dois pés no rolê, exigindo outros movimentos por parte do circuitão. Se essa é uma luta antiga, alimentada e pavimentada por gerações anteriores de incontornável importância, fato é que a segunda década do século XXI não deixa dúvidas de que a relação com a diferença não se resolverá enquanto mera representação de determinados temas e assuntos (lição fracassada da modernidade e seus ismos), mas enquanto produção de presença e vitalidade. Noutras palavras, os sujeitos importam.
Para essa edição, ambos os sintomas foram sentidos por nós: de um lado, vivemos o dilema de gestar uma mostra em meio a um período de incertezas públicas e coletivas – afinal, não estamos propriamente nem na pandemia e nem na pós-pandemia, mas num limbo de difícil caracterização (daí, em que ponto o rito deste ano converge ou diverge dos anteriores?); de outro, a necessidade de reconhecer que nem tudo se resolve num processo de seleção: considerar a diversidade de marcadores geográficos, raciais, de gênero, que tanto constituem os enunciados do agora, passa por ponderar sobre as condições (sociais, financeiras etc) que determinam que alguém possa ou não se inscrever num processo seletivo de grande visibilidade. Isto é, para além do que chegou em nossas mãos, nos foi inevitável refletir sobre aquilo que também não chegou, e por quê.
Postas as considerações, este Abre Alas apresenta trinta nomes de diversas partes do país (e fora dele), ocupando os dois espaços da A Gentil Carioca no Rio de Janeiro e em São Paulo, que exploram algumas das principais questões desses anos contraditórios. Entre pintura, objeto, fotografia, vídeo, instalação, performance, arte sonora e outras inventividades, esperamos juntos abrir passagem para este 2022 furioso de modernismos virados do avesso.
- Deri Andrade, Maxwell Alexandre e Pollyana Quintella