Abre Alas 13
Adeildo Leite, Alexandre Furcolin Filho, Anna Costa e Silva, Beatriz Chachamovits, Benoit Fournier, David Bert Joris Dhert, Fernanda Leme, Guerreiro do Divino Amor, Luciana Kater, Lyz Parayzo, Rafael Abdala & Jessica Goes / PROTOVOULIA, Rafael Bqueer, Rebola, Romain Dumesnil, Talita Hoffmann, Tania Dinis, Zaven Paré
Curadoria de Marcio e Mara Fainziliber, Maria Laet, Bernardo de Souza
Ao final de um ano que se encerra inglório, atingido por constantes marés de eventos desastrosos à vida do Brasil e do mundo, segue-se outro, marcado, antes mesmo de seu princípio, por previsões políticas e eco- nômicas em nada alvissareiras quanto ao futuro próximo da humanidade. Nesta toada dramática, seguimos em ritmo de avanço e retrocesso, embalados por sinais trocados, muito barulho e saraivadas de balas, avançando o sinal vermelho do tempo sob risco e perigo iminentes.
Banhado em tintas de pura artificialidade, às escaramuças noturnas, dia após dia, o sol nasce tão belo quanto aterrador para o povo carioca inútil paisagem se impõe inclemente à revelia daquilo que é sentido e processado na ruas da cidade, sobre o piche do asfalto ou da terra em chamas. Mas por quanto tempo, ainda, o Rio de Janeiro continuará lindo, às expensas de um povo maltratado em sua escorchante rotina de sol a sol?
Sob as tórridas temperaturas de um novo verão, a Gentil Carioca nos brinda com um show de grandes novidades: um bloco de jovens e nem tão jovens artistas dispostos a invadir as avenidas de 2017 paramentados com a artilharia revigorante da arte, investidos da força e da potência criativa que a todos os males espantam, descortinando horizontes e renovando o fôlego de nossa épica aventura sobre o planeta terra.
Este janeiro abre o ano confrontado por anjos e demônios, revelando imagens de urgência absoluta — sem filtros ou maquiagem — ao passo em que constrói cenários delirantes, de tintas ficcionais, os quais desvelam um mundo que ainda está por ser compreendido, imaginado, inventado e construído. Mas neste mundo que é mundo mas também não é mundo, realidade e fantasia operam não mais como antípodas, mas como campos complementares a engendrar novas esferas de poder, amor e convivência. Precisamos alcançar, a um só tempo, o que está longe e o que está perto, o que é visível e o que é indizível, o que está no gibi e o que ainda está por vir.
Dentro de um caldeirão de ingredientes e vozes tão dissonantes quanto complementares — pois assim é a democracia, tanto de corpos quanto de ideias —, produzir-se-á a mais bela alquimia, o elixir da longa vida, o suprassumo da alegria, o antídoto às ideias comezinhas e o veneno antimonotonia. Por entre as cobras e lagartos do ano que se foi, há de irromper um novo homem, ora híbrido, ora mutante, em tempos científico, noutros poético, feio e belo, transgressor ou pacificador, porém sempre alerta, dinâmico, solidário e corajoso. Embarcamos, destemidos, com foco e euforia, na nau da arte e dos desvairados, num carrossel de cores, formas, ideias e imagens que ofertam graça e tristeza, razão e insanidade. Armados com bússolas e serpentinas, giletes e confetes, derrubamos os muros do passado e vislumbramos os estandartes do futuro, sambando e marchando em meio a blocos de homens e mulheres, índios e Alices, gays e travestis, clones e ciborgues, parando, aqui e ali, num cinema para namorar, numa esquina para panfletar ou num motel para transar; mas logo seguimos em frente, pois não há mais tempo que se possa perder: ô abre-alas que eu quero passar, ô abre alas que eu quero passar!
Marcio e Mara Fainziliber, Maria Laet e Bernardo de Souza