José Bento | Chão de estrelas
Chão de estrelas
Esta exposição tem um berço milenar, lá onde começa o que podemos chamar de civilização. Esta exposição é uma pequena amostra de um embate pessoal, individual, de uma única espinha ereta com a vasta ideia, na verdade conceito, a Civilização: para adjetivar a civilização brasileira: panindogrecoindionegrosinomuçulmanocatólicoatlânticojudaicozen. Internalizamos uma cultura bussolar, temos nosso ímã, interno, pé no chão, com Civilizações internas: pernambucana, baiana, mineira, carioca, paulista, caribenha pré industrial de Fortaleza ao Amazonas, e gaúcha e o Planalto Central que se expande formando sua cultura pós-industrial extrativista monocultora, olha só quanto chão e quantas árvores tombaram. Este chão mergulha num fluxo que começa com o oceano Atlântico, este que banha vossas praias, e vaza pelo Cabo da Boa Esperança, pela Terra do Fogo, mas, talvez, muito antes pelo Estreito de Bering ou por meio de aventureiros ainda mais destemidos que cruzaram o oceano Pacífico em suas precárias jangadas — todos os meios para conquistar o mar que nos separa foram colocados em prática com a mais alta tecnologia de cada época, e todas tiveram por base material a utilização da madeira e do vento. A madeira foi durante séculos o que o minério raro é hoje para os chips e supercondutores. Antes de tudo o Brasil é um amálgama de línguas que confluiram aqui vindas de todas essas civilizações.
Chão de estrelas, de uma forma quase popular, fala disso.
Ricardo Sardenberg, 2015