OPAVIVARÁ! | UTUPYA

25 Março - 6 Maio 2017 Rio de Janeiro
Apresentação

  

No calor do momento.

 

Desde que vim parar no Rio de Janeiro, deixei-me levar pelas muambas e conversas fiadas dos OPAVIVARÁS! Meus heróis-marginais, meus amigos de praia, com os quais divido preocupações e alegrias, e sobre os quais estou sempre a pensar, buscando, quem sabe, um dia, entender melhor de que matéria são feitos, por quais derradeiros propósitos são movidos ou quais fins justificam seus tenazes e burlescos meios. Um dia...

 

O mobiliário de meu escritório nas areias do Arpoador consta de uma cadeira de praia para três e de uma ou duas cangas para alertar os inimigos e proteger a boa índole dos "negócios" e do curador — precavido que sou, sempre deixo posições cativas para os OPAS!, que chegam sem avisar e logo entabulam um papo ameno para torná-lo um plano de ação. E assim trabalhamos, ou brincamos ou nos regozijamos.

 

É o Rio de Janeiro, terra santa dos OPAVIVARÁS!, terreno que lhes consagra o poder, que lhes dá alma e sentido. Distantes desse chão e dessa praia por tempo alargado, vão perdendo a graça e o bronzeado, tornando-se tão míticos quanto irreais. Mas aqui, ganham vida, dão vida, articulam o mais belo dos jogos, a mais potente das artes. Tal qual na guerrilha, há um exército a ser debelado, um território a ser ocupado e uma revolução a ser feita na marra.

***

Incomoda-me, demasiado, a ideia de aldeia global e de um mundo infinitamente espelhado — platitude anêmica do pensamento. Gosto do gosto da terra, do sabor da saliva que me lembra a infância, a ancestralidade de um povo que é o nosso e nenhum outro. Não se trata do petróleo ser nosso, mas de ser nosso o cafuçu, a mestiçagem e a índia que come outro homem para vingar o filho morto na guerra; trata-se, sobretudo, de resgatar algo que jamais foi perdido, uma latência cabocla oriunda da mata, temperando a fala, ora encurtando, ora espichando o discurso, e nesta toada relativizando o mundo e as ideias de há muito consolidadas. Isso não foi perdido, está na alma do povo e no viço da pele morena, na natureza que desbunda e aplaca a ira, no mundo dos sonhos que trai a realidade.

 

Antípodas convivem em pé de igualdade na clareira dos OPAVIVARÁS!, a luz banha a teoria, o mar dissolve os mercados e o calor nubla a visão. Não é realidade virtual, não, mermão! É política do aqui e agora, é prazer e é poder no rebanho dos homens sem Deus, donde o sexo é rotina, comida é feijão, sombra é oca, refresco é picolé e a conversa revela-se escambo de ideias, ou apenas mais uma boa razão pra navalha correr na palavra e a ginga formar uma dinâmica assembleia de homens e mulheres, trans e viúvas, crianças e bandidos, índios e todo o tipo de gente que se avista desde este ponto privilegiado no Brasil abissal do século XXI.

 

Nesta aldeia carioca chamada Saara, sob o sol de satã destilando de nossos corpos o suor do trabalho, do Carnaval e do embate entre os sexos nas camas ou nas redes, existe uma tenda que negocia os mais insondáveis artefatos e especiarias, fica à rua Gonçalves Lêdo, entre os números 11 e 17. Por detrás do balcão, uma gentil carioca recebe o povo que chega aos borbotões de todos os cantos e cercanias do Brasil e além-mar, buscando tintas, gambiarras ou tecnologias que nem sequer os chineses dominam...

Eis que nessa encruzilhada de todos os santos foi aberta uma porta que não pode ser fechada, uma trilha que leva a uma tribo esquisita, misto de carioca, tupinambá e cruz-credo: são os OPAVIVARÁS!

 

Bernardo José de Souza, 2017

Vistas da exposição
Obras
  • OPAVIVARÁ!, TUPYCOLÉ, 2017
    OPAVIVARÁ!, TUPYCOLÉ, 2017
  • OPAVIVARÁ!, Rede Social, 2017
    OPAVIVARÁ!, Rede Social, 2017
  • OPAVIVARÁ!, Oca Gira, 2017
    OPAVIVARÁ!, Oca Gira, 2017
  • OPAVIVARÁ!, Abre Caminho, 2017
    OPAVIVARÁ!, Abre Caminho, 2017
  • OPAVIVARÁ!, REMOTUPY, 2017
    OPAVIVARÁ!, REMOTUPY, 2017
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