Abre Alas 14
Allan Sieber, Amador e Jr. Segurança Patrimonial LTDA., Angela Od, Bia Martins, Caio Pacela, Danielle Cukierma, Enorê, Gustavo Torres, Ivan Schulze, João Paulo Racy, Kammal João, Leandro Eiki, Mariana Paraizo, Maxwell Alexandre, Nathalie Nery, Rafael Pagatini, Ricardo Villa, Thiago Ortiz, VAV - Vendo Ações Virtuosas, Yoko Nishio
Curadoria de Clarissa Diniz, Cabelo, Ulisses Carrilho
Abre Alas Abram Alas
É o começo de um tudo novo, mais um recomeço, assim é a arte que refaz a si mesma, cíclica, reinventando-se, lançando-se aos desafios do dia, da nossa época, desafios históricos, políticos, revolucionários! Novas ideias e novas propostas podem aparecer, caminhos, perguntas, respostas, ideias, cores, formas, significados... a poesia acontece a cada dia, a cada segundo, ATENÇÃO! Como pegá-la? Como colocá-la no papel, no espaço expositivo? ... hummm este nome pode ser chato... na sala, na galeria, na rua, no mundo, quem sabe. Na Gentil, temos certeza que o Abre Alas é um lugar de diálogo aberto a todos. No ano de 2017, recebemos 357 documentos/portfólios com trabalhos, sonhos de cada artista, linguagens e ideias diferentes que traduzem o que pensam e os lugares de onde estes artistas vêm. Esta gentil confluência chegou às mãos, olhos, bocas, cabelos e células da ilustre comissão de seleção, formada pelo artista Rodrigo Cabelo Saad e os curadores Clarissa Diniz e Ulisses Carrillo — para olhar, sentir, analisar, discutir, escolher os participantes do Abre Alas 2018. Não há lugar para todos, esta difícil missão é inevitável, é parte do diálogo desejoso da vida. A escolha é feita por uma química misteriosa que se estabelece entre os comissários. Viva os escolhidos e o que podemos dizer aos não escolhidos é perseverança! Conselho que damos aos escolhidos também, porque afinal têm uma vida pela frente. Harmonia-dança-amor-arrojo com o trabalho que estamos fazendo, pois ele é a parte verdadeira de nós, da nossa alegria. Para os que ficam, segue o diálogo com o espaço, outros artistas e o público. O que será que vai acontecer, o que será que já está acontecendo com o Abre Alas 2018, o que veremos o que receberemos, somos eternos curiosos deste projeto que alavancamos por 15 anos.
Gostaríamos de agradecer a todos os artistas que mandaram sua arte para nossa graça, àqueles que entraram, pelo trabalho, aos comissários por terem se empenhado neste delicado serviço, e a todos que aqui curiosos para ver se apresentam! O Abre Alas é um momento, um pouso, um canto, que ele nos abrace.
Abraços,
Laura, Neto e Márcio
Os trabalhos desta mostra foram propostos por artistas brasileiros e estrangeiros para o Abre Alas 14, que inaugura-se às vésperas do Carnaval de 2018. Muito embora a exposição não configure-se como uma mostra determinada conceitualmente — é resultado da leitura de portfólios enviados pelos próprios autores —, é possível sentir uma temperatura comum.
Trata-se da carne morna que recém morreu, da frieza dos corpos refrigerados, do ar viciado de uma sociedade enclausurada e vigiada, de um ar nonsense, de sentidos que não se revelam — como o fenômeno do número. Luvas de látex autocontidas e moedas deformadas em trilhos, formas dissimuladas nas ruas de uma encruzilhada e imagens projetadas não para a lembrança, mas na busca da transitoriedade que leva ao esquecimento: exemplos dos atritos que os artistas aqui apresentados propõem. Linguagens às voltas com formas diversas de curto-circuito, ou de esgotamento.
É preciso questionar o estatuto dos objetos, o lugar das coisas e a nossa disposição em conviver com elas. Questionar, por fim, os sujeitos e seus regimes de legitimidade. Assim como nas bandeiras dos movimentos sociais que, unidas, se transformam numa “tereza” (para a arte, inclusive), neste Abre Alas convergem fôlegos para a devoração coletiva da tradição ou, pelo menos, sua ruminação.
Das mais radicais propostas de Glauber Rocha, pensar o estranho surrealismo tropical — a fome — deduz uma estética da violência que surge do intolerável. Na obra de Glauber, toda ordem ou indivíduo poderá ser submetida a um transe ou crise, pois nasce da violência. Com sorte e uma saudável e farta dose de utopia, a fome sofre transmutações e torna-se metáfora do desejo e do devir revolucionário. Da fome, da violência, da crise e, hoje, do golpe, revela-se aquilo que é “terrível demais, belo demais, intolerável”. Algo que excede nossa capacidade de reação. Como a fome, imagens que — muito embora podemos sentir e com as quais podemos nos relacionar — não podemos compreender.
Clarissa Diniz, Cabelo e Ulisses Carrilho