OPAVIVARÁ! | PORNORAMA
Uma sorte de memórias
Contemplem!
Vejam como a arte pode ser, toquem, sintam, entrem, se deixem penetrar por ela,
venham sozinhas, venham para receber, venham...
Venham até que contemplar não seja o suficiente, então... Façam
Não podemos esquecer que fomos ensinados a esquecer. Este é o ponto. Ponto final que foi colocado. Um esquecimento necessário para o aprendizado, para dar lugar ao certo e ao errado. Aprendemos e apreendemos por repetição para chegar ao conhecimento. O saber vem do exercício, muitas vezes (senão todas as vezes) por conduções do que é o certo a ser feito. A forma certa a ser assimilada. A forma certa. A forma. A.
E assim ficamos compartimentados a locais e comportamentos corretos e de contornos que possam fazer sentido, a educação e a sociabilidade colocam para baixo do tapete o que é sujo. O que é visto como desagradável é um juízo de valor para determinar como ser e como fazer, e assim também o que ser e o que fazer.
Essa coisa.
Esse laço.
Esse aço.
Esse traço.
Esse troço.
Essa suruba.
Essa louça.
Essa vida.
Essa coisa.
Essa moça. Esse moço.
Essa verdade essa mentira verdade mentira verdade mentira.
Tira, tira.
Tira daqui.
Me tira.
Tira?
Retira tudo, tudo mesmo... Menos o que seja revolução.
Os trabalhos do OPAVIVARÁ nos colocam em posição de atividade. A fruição é ativa. Mais do que uma ativação do objeto, mais do que a ativação do corpo, mais do que a ativação público-obra. É uma atividade da memória original do todo. São chamamentos públicos de intimidade, como uma carta de visita para uma pélvis coletiva, uma pulsação de seivas, pelos pubianos, gemidos e ritmos que arrebatam com o beneplácito de cada um e de todas que por aqui passarem.
Sem medo do fogo no cu, esse fogo que nos faz mexer, para onde partimos, de onde pode vir o reconhecimento da revolução. Uma ode ao cu e à sua potência, potência sua de ser boca, de início e de fim; de ser método, de não precisar ser dicotômica, palavra e coisa, objeto e fábrica, entrada e saída. Simples em cada prega dilatada, complexa em cada processo. O cu ela mesma um processo. O cu essa memória remoída, assimilante, sem dentes, pronta e comum.
Esta memória original do todo que nos coloca como corpo latente, pronto para o riso, para o gozo e para o uso, uso de tudo e do todo. São memórias, uma quantidade de memórias que vai se acumulando, que desencadeiam mais memórias, que abrem mais memórias e são tantas que de tantas podem ser ela Toda, Toda.
Deixa a troca, a comida, a justa, a certa, a risada, a gozada, a largada, a grandeza, a lambida, a era, a gritaria, a rua, a suavidade, a intensidade, a fragrância, a bebida, a catinga, a hora, a música, a cloaca, a olhada, a carne; que estas ficam para contar. Contar da intimidade do espaço-tempo. A intimidade é um grito, ela não chega aos poucos, é arrebatação que arromba sem pedir licença, balança. É a casa e o miasma. É o álcool no culto, é o sexo no trabalho. E é uma história.
Esta exposição resgata esta memória de que somos corpo, suamos, fedemos, comemos, fudemos, que temos e que somos possuídos de potência e troca.
E é para a potência do que é o corpo que peço um brinde.
Para comemorar os fluidos.
Para perceber a indução, e é nessa percepção que habita as obras da OPAVIVARÁ, como um canto de guerra, que nos alerta.
Aqui o ponto final é percebido e retirado, engolido, deglutido, consumido e esquecido, este sim.
Um convite, estejam prontos para lembrar.
– Keyna Eleison, Abril de 2019