Marisa Monte vislumbra a alvorada com single 'Calma', aliciante soul que sinaliza o tom pop do álbum 'Portas'
Programado para 1º de julho, dia do 54º aniversário da cantora, o álbum tem coprodução de Arto Lindsay, com quem a artista iniciou conexão há 30 anos no disco 'Mais'.
Primeiro single do primeiro álbum solo de músicas inéditas de Marisa Monte em dez anos, Calma entrou em rotação às 21h desta quinta-feira, 10 de junho, com capa que expõe pintura de Marcela Cantuária e com munição certeira para seguidores e detratores da cantora e compositora carioca.
Para quem esperava por (alguma) revolução ou mesmo por um toque de ousadia na discografia da artista, a decepção é garantida. Para quem entende que Marisa vem fazendo essencialmente o que costuma se chamar genericamente no mercado de música pop, em movimento autoral iniciado há 30 anos com o álbum Mais (1991) e alavancado a partir do álbum blockbuster Memórias, crônicas e declarações de amor (2000), Calma soa como canção instantaneamente aliciante.
Em essência, Calma é soul pop que anuncia a alvorada e que, diante do sombrio momento atual do mundo e especificamente do Brasil, surte até efeito terapêutico por vislumbrar futuro em que a luz do sol voltará a bater na estrada, para citar verso da letra da composição assinada por Marisa Monte em parceria com Chico Brown, filho de Carlinhos Brown, um dos parceiros mais frequentes da artista.
O single Calma sinaliza que o álbum Portas – programado para ser lançado em 1º de julho, dia do 54º aniversário da cantora nascida em 1967 – vai se abrir para o mundo na mesma good vibe do antecessor O que você quer saber de verdade (2011).
Gravado entre outubro de 2020 e abril de 2021 pelo engenheiro de som Daniel Carvalho (RJ) e por Patrick Dillet (NY), com produção orquestrada pela própria Marisa Monte com a colaboração de Arto Lindsay (produtor do citado álbum Mais e do posterior Verde anil amarelo cor-de-rosa e carvão, disco de 1994 que sedimentou o prestígio de Marisa Monte), o álbum Portas parece – a julgar pelo single Calma – ser pautado pela sofisticação que sempre embalou, com paradoxal simplicidade e apelo pop(ular), a música de Marisa Monte.
Na gravação de Calma, feita com músicos norte-americanos arregimentados por Arto Lindsay em Nova York (EUA) e por músicos brasileiros, a canção é valorizada pelo arranjo, sobretudo pela orquestração dos metais pelo trombonista Antonio Neves. O naipe de metais – formado pelo trombonista com Eduardo Neves (flauta), Eduardo Santana (trompete) e Oswaldo Lessa – sopra todo um universo musical black que pavimenta com soul o “asfalto negro” mencionado na letra.
Em três minutos e seis segundos, Marisa Monte apresenta perfeito pop soul que, quando voltar a comunhão presencial entre a artista e público em shows, tem tudo para ser calorosamente cantado em coro por seguidores da cantora.
Nessa arquitetura delicada, o toque do piano Paul Wilson soa como adorno na gravação formatada com violões (o de aço é tocado por Dadi Carvalho e o de nylon é da própria Marisa), a bateria suave de Kassa Overall, a guitarra sutil de Nicolas Hakim, o baixo de Melvin Gibbs e o trompete de Michael Leonhart.
Esses instrumentos são harmonizados no single para sustentar a leveza pop do single Calma, sopro de esperança e primeiro sinal de que, mesmo sem abrir ciclo na discografia de Marisa Monte, o álbum Portas fará jus à expectativa de quem espera há uma década por um disco solo de músicas inéditas da artista.