Aleta Valente, tras em seus auto retratos, um flerte com estereótipos da feminilidade – ainda que ao olho atento esses estão de alguma forma sendo subvertidos – como por exemplo a constante erotização do corpo feminino ou a insaciável utilização do nu feminino na arte. Neste sentido, em Terra de ninguém o nu brilha por sua ausência. Um mesh-up entre La maja desnuda de Goya e a Venere delli stracci de Pistoletto icônica da Arte Povera (ambas obras, feitas por homens, nas quais o nu feminino é protagonista), aqui apenas divisamos a figura da artista, soterrada pela zona do que parece ser um quarto inteiro afogando essa mulher. É uma negação total das expectativas ditadas pela domesticação imposta aos nossos corpos, que nos exige ser mulheres limpas, ordenadas, belas e pacíficas. A zona do entorno sugere o possível furacão interno. A típica pose de musa coberta pelo caos propõe uma dicotomia que se faz ainda mais tangível pelo jogo de cores dos diferentes fundos do díptico: A qual versão de Aleta você está preparado para encarar?

Aleta Valente brings in her self-portraits a flirt with stereotypes of femininity such as the constant eroticization of the female body or the insatiable use of the female nude in art. In “Terra de ninguém” (No man's land) the nude shines through its absence. A mesh-up between Goya’s “La maja desnuda” and Pistoletto's “Venere delli stracci”, iconic works of Arte Povera made by men, in which the female nude is the protagonist. Here we only share the figure of the artist, buried by the area that seems to be a whole room drowning the woman. Expectations dictated by the domestication imposed on the woman's body, required to be clean, orderly, beautiful and peaceful. The surrounding area suggests a possible internal hurricane. The typical muse pose covered by chaos proposes a dichotomy that is made even more tangible by the role of the colors from the different backgrounds of the diptych: Which version of Aleta are you prepared to face?